Uma primeira reflexão importante a fazer aqui (sempre brevemente) é a respeito do que é e para que serve uma gramática. Vamos ficar com a primeira parte, por hoje, porque não tenho intenção nem condição intelectual de esgotar assunto algum. Meu intuito aqui é mesmo de re-fletir. Jogar ideias para que elas voltem modificadas, transformadas em coisa nova. E boa.
Uma gramática não é anterior a língua alguma. Para ficarmos no terreno da nossa língua, a primeira gramática que foi feita para línguas daqui foi escrita por um jesuíta: Anchieta. Sim, José de Anchieta, que transcreveu os fonemas, aproximou as letras, pensou a morfologia, a sintaxe e a semântica, sempre por aproximação (é claro) com o que ele conhecia de língua. E, cá entre nós, não era pouco. Poliglota, o rapaz. Latim, espanhol, italiano, Português eram fluentes nas mãos desse hábil escritor.
Mas, para ficarmos apenas no exemplo do jesuíta das Ilhas Canárias, a sua Arte da Gramática da Língua Mais Falada na Costa do Brasil, é um documento importantíssimo, que só passou a existir como tal bem depois de já existir a língua Tupi. Ou melhor as línguas Tupi, porque se dividiam em muitas línguas. Quer dizer, uma gramática é a sistematização do funcionamento de uma língua. Ela não é mais importante do que e nem é anterior à língua. Não é a gramática que faz a língua. Ela é apenas um retrato de um momento da organização e do funcionamento da língua.
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