Falar em público é um verdadeiro monstro para muita gente. E esse monstro assusta as pessoas desde as primeiras séries escolares, quando os professores pedem que os alunos façam recitais, seminários, debates e outros gêneros orais que são obrigados a fazer, muitas vezes sem o devido preparo para enfrentar situações formais de linguagem. Daí decorrem vários problemas de linguagem oral que muitas vezes persistem até a vida adulta.
Hoje quero tratar de um problema mais simples e deixarei mais para frente os mais complexos, de natureza mais emocional e psicológica. Há muitas pessoas que não se preocupam em se fazer entendidas quando falam. Assim, contam sempre com a boa vontade do ouvinte para compreender o que foi dito, independentemente da qualidade da dicção, da pronúncia de quem fala.
Assim como nos preocupamos em ter uma letra minimamente legível, é importante que nos ocupemos de ter pronúncia igualmente inteligível. Falar rápido demais é um problema tão grande quanto falar muito devagar. Tive uma aluno que falava tão rápido que dava a impressão de ser mais acelerada do que um locutor de futebol no rádio. Tive um arguidor na qualificação do meu doutorado que falava muuuuuuuuuiiiiiiiiiiitttttttttttttoooooooo devagar. Não participou da Defesa Pública. Dava angústia esperar a escolha das palavras e a lentidão com que eram pronunciadas.
É claro que a situação pode pedir que falemos com maior ou menor velocidade. Mas em todas as situações é preciso que se controle a pronúncia de cada palavra, respeitando, é claro, a variedade regional. Um bom exercício de pronúncia é observar como executamos cada som, especialmente em finais de palavra, quando unimos uma a outra. Reparar os pontos articulatórios, o modo como usamos todo o aparelho fonador, incluindo aí principalmente glote, língua, palato, dentes, lábios... tudo interfere na qualidade da emissão sonora.
Se quiser observar como articulamos os sons ao falar, uma boa prática é colocar um obstáculo na boca, um lápis ou uma caneta (na posição horizontal, é claro), empurrando o canto dos lábio para trás, e tentar ler um pequeno texto. Isso evidenciará os pontos articulatórios e toda a musculatura envolvida na emissão sonora. A consciência desses movimentos pode nos fazer controlar melhor a função de cada parte do nosso aparelho fonador. Ouvir-se também é uma excelente estratégia. Por isso, gravar-se falando pode ajudar a perceber o volume, a velocidade, a respiração, o encavalamento de palavras, as pausas, os sons omitidos...
É uma questão de bom senso, de respeito ao outro, de deferência à pessoa que nos ouve. Se já é assim quando falamos para uma pessoa apenas, mais ainda será quando falarmos com um grupo grande em uma situação formal de comunicação que exige um uso não apenas correto de linguagem, mas, sobretudo, um uso claro, bem pronunciado, bem articulado, em velocidade adequada... uma característica de quem fala bem.