domingo, 13 de abril de 2014

Vergonha alheia - verbos em -iar

Outro dia, estava me lembrando de um colega de turma, na Faculdade de Letras, nos idos de 1990. Essa turma se encontrou há alguns dias. Trata-se, pois, de um encontro de pessoas que devem ter no mínimo um razoável domínio da Língua Portuguesa, especialmente para falar em público. Então: isso nem sempre é verdade. Até em meios restritos como este ocorrem tropeços de corar o cidadão comum e de espantar o cidadão letrado, sobretudo em situações formais.

Há verbos que podem nos entortar o nariz quando mal utilizados deixam o usuário um tanto envergonhado. Os verbos que têm a forma do infinitivo terminada em "-iar" normalmente têm o dom de empurrar alguns penhasco a baixo. Na via das dúvidas, naquela hora em que a palavra parece inevitável, vale a pena buscar um sinônimo ou um substantivo correspondente.

Pois bem. Eis que a certa altura do encontro, já em seus dias finais - algo como quinta-feira - um colega de um colega nosso toma a palavra e vai fazer referência ao fato de que se diverte com algumas palavras que passam pelo processo de abreviatura. Não era da turma e queria tirar uma dúvida sobre abreviações. Ele disse, muito infelizmente: Essa palavra não se abreveia. O resultado não poderia ter sido outro, senão um sonoro silêncio seguido de um burburinho.

Está aí um exemplo de verbo terminado em "-iar". No caso deste verbo e nesta conjugação específica, a pessoa deveria ter dito "não se abrevia". 

Modo Indicativo
No presente indicativo: abrevio, abrevias, abrevia, abreviamos, abreviais, abreviam. 
No pretérito perfeito: abreviei, abreviaste, abreviou, abreviamos, abreviastes, abreviaram
No pretérito imperfeito: abreviava, abreviavas, abreviava, abreviávamos, abreviáveis, abreviavam
No pretérito mais-que-perfeito simples: abreviara, abreviaras, abreviara, abreviáramos, abreviáreis, abreviaram
No pretérito mais-que-perfeito composto: tinha abreviado, tinhas abreviado, tinha abreviado, tínhamos abreviado, tínheis abreviado, tinham abreviado
No futuro: abreviarei, abreviarás, abreviará, abreviaremos, abreviareis, abreviarão
No futuro do pretérito: abreviaria, abreviarias, abreviaria, abreviaríamos, abreviaríeis, abreviariam

No modo subjuntivo
No presente: abrevie, abrevies, abrevie, abreviemos, abrevieis, abreviem
No pretérito imperfeito: abreviasse, abreviasses, abreviasse, abreviássemos, abreviásseis, abreviassem
No futuro: abreviar, abreviares, abreviar, abreviarmos, abreviardes, abreviarem

Modo Imperativo 
Afirmativo
abrevia, abrevie, abreviemos, abrevieis, abreviem

Negativo
abrevies, abrevie, abreviemos, abrevieis, abreviem

Confesso que a não familiaridade pode levar a alguns deslizes. Mas o inverso é verdadeiro. Se errar, não há problema. Todos. Todos cometem falhas. Se der para evitar, troque-se por um substantivo, ou use-se um sinônimo. Não sendo possível: pensar a conjugação e ir devagar na conjugação, lembrar e usar a palavra correta. Para não ser alvo de vergonha própria nem alheia.

domingo, 6 de abril de 2014

Brincando com Preposições




Assim como em todas as línguas, na nossa língua portuguesa em uso no Brasil, o uso de preposições altera o sentido do que se pretende dizer. No inglês, por exemplo, look for e look at são coisas bem diferentes. Em Português, a preposição "com" estabelece sentidos diferentes em expressões como "dançar com alguém" e "dançar com dor".

Abaixo, uma série de situações que apresentei aos meus alunos, a fim de que percebessem isso:

 Em um banco de São Paulo havia uma placa que dizia: ATENDIMENTO DE IDOSOS. Na semana seguinte, ela havia sido substituída por ATENDIMENTO A IDOSOS. Que diferença de sentido é produzida com a troca da preposição?

Sobre a carteira de uma sala do 9º ano foi esquecido um bilhete que dizia: SUA VINDA DE SALVADOR FOI O MELHOR PRESENTE. No bilhete, a preposição “de” estava rasurada e corrigida para a preposição “a”. Logo, o bilhete ficou assim: SUA VINDA A SALVADOR FOI O MELHOR PRESENTE. Considerando a correção feita, o que alterou no sentido do bilhete?

Um consumidor chegou à farmácia e perguntou: TEM VENENO PARA BARATA? Com um sorriso no rosto, o farmacêutico respondeu: NÃO. TEMOS VENENO CONTRA BARATA. Que diferença de sentido o farmacêutico produziu ao trocar a preposição?

Na semana seguinte, o mesmo consumidor precisou de um xarope, porque tossia muito. Dessa vez, foi à farmácia e, como só havia aquele farmacêutico, foi a ele que perguntou: O SENHOR TEM REMÉDIO PARA TOSSE? O farmacêutico quis complicar e perguntou: MAS VOCÊ QUER DEIXAR SUA TOSSE MAIS FORTE? O cérebro do consumidor funcionou rapidinho. Antes que a próxima tossida viesse, ele corrigiu: QUERO REMÉDIO (cof! cof! cooof!) CONTRA TOSSE. Agora diga: que diferença de sentido pode haver entre a primeira e a última fala do consumidor?

Há um relato do cantor Chico César que conversando com Chico Buarque sobre um verso de uma das músicas. O verso é “E ERA UM ASSALTO NA FARMÁCIA”. Chico (o Buarque) perguntou se não era melhor dizer: “E ERA UM ASSALTO À FARMÁCIA”. Chico (dessa vez, o César) preferiu não mudar.  Qual seria a diferença de sentido provocada pela possível troca da preposição

 Em dias de brutalidades no Brasil, na Líbia ou em qualquer lugar, é bom lembrar que a solidariedade é algo feito PELAS pessoas e PARA as pessoas. Que diferença de sentido há se usarmos as preposições destacadas nessa frase grifada?

 A solidariedade está NAS pessoas e ENTRE as pessoas. Que diferença de sentido há se usarmos as preposições destacadas nessa frase grifada? 

Como em todas as nossas aulas, rimos muito. E aprendemos também.