Por sorte, sempre temos a possibilidade de criar novas formas de dizer as coisas, de modo que elas nem sempre são ditas em seu sentido literal, ao pé da letra, seu sentido denotativo. A riqueza da linguagem (principalmente, mas não só) poética é que traz a possibilidade da linguagem figurada. Entre muitas, a metáfora é a figura-mãe. É ela que me propicia dizer coisas como "os olhos são o espelho da alma". Ou, para quem quiser mais e mais metáforas, dizer coisas como diz o Chico Buarque na música "Pedaço de mim". Só para exemplificar: "saudade é o revés de um parto; é arrumar o quarto do filho que já morreu". Dificilmente alguém definirá melhor esse sentimento de perda, de ausência, isto é, a incômoda presença da ausência. (Opa! Fiz um paradoxo)
Da metáfora decorrem muitas outras figuras. E há figuras de todo tipo, tantas, que no século XIX, havia centenas de figuras - excesso que quase levou a Retórica ao limite mínimo e estilístico pela exagerada importância dadas às figuras. Bom orador era o que esbanjava das figuras. Felizmente, no início do século XX, filósofos, como Chaim Perelman, repuseram a Retórica em seu lugar de honra, sem deixar, no entanto, de observar as figuras, mas vendo nelas poderosos recursos argumentativos. E é isto que elas são: recursos de linguagem capazes de levar o ouvinte/leitor ao convencimento, à persuasão, à inevitável adesão à ideia que lhe é proposta. Uma figura bem colocada arrebata o pensamento. (Opa! A repetição é figura)
Note-se a figura: "o universo engolido por um furacão". A ideia é tão forte, que parece uma grande catástrofe que nos faz imaginar todo o mundo sendo arrastado para o interior de um furacão. Uma poderosa figura, sem a menor sombra de dúvida. No entanto, se tirarmos um pouco o pé do freio e olharmos melhor para a paisagem da linguagem que passa por nós, veremos que um furacão é algo infinitamente minúsculo perto da imensidão do universo. Nesse sentido, o que essa figura expressa é impraticável, inexequível. Do ponto de vista denotativo é uma bobagem. Mas conotativamente é uma figura que arrasta o pensamento e o convence com uma força maior que um furacão, maior que o universo. (Opa! Construí uma: hipérbole).