sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A sintaxe da vida



Um dos itens da gramática de que mais gosto é o da sintaxe, justamente porque para mim sempre lembra uma metáfora de como funciona a vida: em relações. Tudo neste mundo está relacionado. Quem conhece o chamado "efeito borboleta" sabe bem.

Desde que se conhece a magia do verbo em uma língua, seja ela qual for, abre-se o portal para que se tome conhecimento de um imenso emaranhado de relações, uma série de feixes conectados ora pelo cordão da lógica ora pelo frágil barbante da convenção, criada e mantida em razão das mais diversas justificativas - muitas vezes injustificáveis.

É pelo verbo que se escuta o pulsar da língua, como se ele fosse o coração, de onde é bombeado todo o sangue responsável pela vida da língua. O verbo pode remeter o ouvinte ou leitor a ações ou a estados. Mais: pode fazer ambos ao mesmo tempo. Muita gente não considera isso fácil (olha aí: considerar é ação; fácil é estado). O mesmo verbo pode dar coloridos diferentes ao sentido, dependendo de sua natureza. Veja-se, por exemplo, o verbo achar em: "eu acho bom achar o caminho de volta". Para captar seu sentido, é preciso ver a relação que este verbo tem com os termos que o rodeiam.

Do verbo se chega ao seu sujeito (ainda que indeterminado ou oculto), aos seus complementos (objetos) e às suas circunstâncias (os adjuntos). Para quem faz análise sintática, começá-la pela análise do verbo e de sua natureza pode ser a grande saída, não só para a predicação verbal mas também para a predicação nominal ou ambas.

Ele é tão poderoso, que pode até bancar uma oração inteira sem sujeito (que é erroneamente considerado termo essencial). Ele é tão capaz, que pode prescindir de seus objetos e de suas circunstâncias. Ele é tão arraigado ao seu contexto, que se pode constituir um texto inteiro só com verbo, tal como fez Julio Cesar no senado romano, ao dizer "Vim, Vi,Venci" (vini, vidi, vici).

O verbo é como se fosse o grande elo, o grande pacificador, o grande catalisador dos termos de uma oração. Como se, por ele, quase todas as demais relações se estabelecessem. Ele é assim como a gente na vida cotidiana: pode facilitar ou complicar as relações. A sintaxe da nossa vida passa necessariamente pelas relações que estabelecemos e mantemos com outras pessoas, fatos e pensamentos.


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