Muito comum pensarmos que a variação dos sons que pronunciamos está relacionada apenas às vogais, como escrevi aqui há alguns dias. No entanto, é preciso considerar que a sonoridade que expressamos por meio dos fonemas consonantais é algo interessante. Não fosse tudo tão rápido nessa nossa vida agitada, teríamos o gosto de perceber a língua que as pessoas realmente pronunciam.
Quem nunca percebeu um mineiro que não pronuncia o diminutivo até o fim. Aliás, para um "mineiro da gema", qualquer diminutivo pode rimar com "fim", porque fica "bonitim". Já os mineiros mais tradicionais não pronunciam o /le/ na palavra "eles", por exemplo. Isso porque "es" não acham importante. E o carioca? Além do /s/ que na maioria das vezes soa como /ch/, tem o /z/ que some ("Rapá, tu por aqui?") e um /u/ que insiste em marcar as "pessouas" mais de "douze" vezes.
Essa é a língua que se ouve, com uma sonoridade diferente do que seria uma norma reguladora da relação fonema/letra. Em muitos lugares ainda se trocam o /b/ e o /v/ em palavras como travesseiro/trabesseiro, vassoura/bassoura, assovio/assobio. Trocam-se também o /l/ e o /r/ em palavras como planta/pranta, claro/craro, flauta/frauta. No Nordeste se ouve com frequência o /r/ no lugar do /g/, quando se diz "a rente" em vez de "a gente"; ou ainda o /v/ por /r/ em construções como "ramo embora".
Mas e o /l/? Ah, o /l/ é mesmo traiçoeiro mesmo. Já está a anos-luz na frente das outras variações de sons consonantais. Em muitas regiões do Brasil, na verdade em quase todas, quando ocupa posição final de sílaba o /l/ já soa /u/. Em palavras como "mil", "alcance" ou "portal" é nítido o som vocálico. Soa /u/ em vez de /l/, em situação de travamento silábico, tanto em sílabas iniciais e mediais, quanto em finais. Daí, dificuldades antigas da língua se fortalecem (como a do binômio mal/mau).
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